quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

A questão da distribuição de água em Jaboatão

Por James Davidson
Imagens da Represa de Duas Unas


A água é um elemento indispensável à vida e à saúde das populações humanas e dos seres vivos em geral. Sua escassez ou má qualidade ocasiona diversos transtornos e problemas para a saúde das pessoas que dependem deste precioso líquido para viver, alimentar-se e para manter a higiene pessoal. Diversas são as doenças e muitas as dificuldades enfrentadas por quem não tem acesso a uma água de qualidade. Por isso, é imprescindível que a água chegue limpa e saudável nas residências, e que a sua distribuição ocorra de forma igualitária.


Contudo, em Jaboatão, a questão da distribuição da água é um problema que desde muito tempo tem agravado a situação de muitas comunidades. Apesar de possuir uma das quatro maiores represas da RMR e de ter boa parte de seu território incluído na zona de proteção dos mananciais, o município é um dos que mais sofrem com a falta d'água, com os constantes racionamentos e, quando a água chega vem suja e muitas vezes apenas de madrugada.


Jaboatão é um municipio que não deveria sofrer com a falta de água e com os constantes racionamentos. Situado na zona úmida costeira do estado e cortado por rios perenes, o município é relativamente rico em recursos hídricos e, por isso, possui cerca de 22,6 % de seu território situado na zona de proteção dos mananciais(de acordo com a lei estadual n°9860 de 12/08/1986). Possui ainda a Represa de Duas Unas, no rio de mesmo nome, que fica situada na parte norte de Jaboatão, bem às margens da Br 232 e que é uma dos grandes reservatórios da RMR com 24,2 milhões de m³ de capacidade. Então por que é que Jaboatão sofre tanto com os racionamentos e a falta de água?

Um dos principais motivas desta carência é a incompetência da COMPESA, órgão responsável pela distribuição. Enquanto a população sofre com a falta d'água nas torneiras, a água escorre livremente pelas ruas em vários pontos da cidade por inúmeros canos quebrados que muitas vezes só são consertados após semanas e até meses. E não adianta a população reclamar que eles sempre dizem que vão resolver e nunca resolvem. O mesmo problema ocorre em relação a água suja que chega nas torneiras. Em muitos bairros como as "Malvinas" em Jaboatão Centro, a população é obrigada a receber uma água imunda, escura e com odor de fossa e quando reclama na agência da COMPESA local  é ironizada pelos atendentes que prometem resolver o problema mas nunca resolvem. É o retrato do verdadeiro descaso e desrespeito com as comunidades que pagam todos os meses a taxa e que não faltam com os seus compromissos.


Uma outra questão importante é a desigualdade de tratamento que é dado às comunidades de acordo com o nível de renda. Enquanto comunidades mais pobres e carentes como Jaboatão Centro e aquelas que vivem em torno da Lagoa Olho D'água (ver o blog da Lagoa) sofrem com a falta de água, o mesmo já não acontece com as comunidades mais ricas. O caso de Jaboatão Centro, por exemplo, é um verdadeiro absurdo pois a Represa de Duas Unas encontra-se a menos de 4 km da localidade, mas água é quase toda desviada para o abastecimento do Recife, enquanto a comunidade fica dependendo de Tapacurá que nada tem a ver com Jaboatão e é uma água mais suja e de péssima qualidade. É terrível saber que a população sofre com os racionamentos de até semanas, enquanto a nossa água encontra-se a poucos quilômetros de distância, mas não chega em nossas torneiras.

O Estado de Pernambuco vive um momento de euforia por causa da construção da Represa de Pirapama, no Cabo de Santo Agostinho. De fato o empreendimento é uma grande obra que trará melhorias e que merece os nossos elogios. Contudo, uma pergunta incomoda: Será que a água de Pirapama vai realmente abastecer as comunidades carentes mais próximas ou, assim como a Represa de Duas Unas em Jaboatão Centro, só vai beneficiar as comunidades ricas da zona sul? Fica aí a questão para ser respondida.